CRISE NO CASAMENTO(ANÁLISE PSICOLÓGICA SOBRE A ESCOLHA CERTA OU ERRADA DO PARCEIRO)
Se pensarmos na saúde emocional em sua totalidade, a questão amorosa deveria ser a prioridade absoluta, caso contrário, o conflito têm a tendência de inundar a vida pessoal, gerando constante insatisfação e infelicidade. Todos nos tempos atuais deveriam ter em mente que o amor, romance, namoro ou qualquer nome que batizarmos para um relacionamento, não pode ser encarado como uma recreação ou passatempo dos finais de semana, sendo uma espécie de continuação de nossas atividades profissionais. A verdadeira e profunda análise do inconsciente é a descoberta do momento em que nos recusamos à uma genuína experiência amorosa, ou então se escolhe erroneamente por temer a mesma. O medo, ciúmes ou competição na relação deriva da agregação entre excitação e competição. Nos termos históricos da psicologia, quando SIGMUND FREUD dizia do famoso "complexo de Édipo", nada mais era do que o começo da disputa na família sobre quem iria deter o poder sobre a afetividade. Erroneamente nos acostumamos à enxergar o complexo de Édipo na essência( o menino disputando com o pai a soberania do prazer materno), quando na verdade a questão é quem nos proporcionou uma base sólida de confiança ou segurança íntima para vivenciarmos a afetividade no futuro, e caso não tenhamos o registro da mesma, como fazer para obtê-la.
Quando escolhemos determinado parceiro afetivo ou sexual, a primeira questão que se coloca é que tipo de vivências iremos obter com o mesmo: sexo, prazer, sofrimento, angústia e inquietação dentre outras. Poucos percebem que a análise do inconsciente por parte de um psicólogo é fundamental para se descobrir o que realmente merecemos ou estamos atraindo em nossos relacionamentos. Como cada um lida com seus sentimentos negativos é a chave para se descobrir o que nos espera. Um exemplo prático disto é a forma como a contrariedade, carência e até a vingança pessoal é demonstrada diariamente(mal humor, sintomas psicossomáticos e discussões). É importante o percebimento desse processo, ao invés da negação cristã internalizada de que não possuímos ódio ou desejo de se vingar. A hipocrisia e dissimulação são os alicerces mais profundos da insatisfação generalizada, que dramatizamos no cotidiano do relacionamento. Para entendermos melhor o processo histórico da escolha, se faz necessária uma breve análise psicológica da família.
Todos nos acostumamos a buscar segurança emotiva na família, e logo percebemos que estamos tão excluídos como na questão econômica, sentindo um "desemprego emocional", pois a miséria afetiva caminha em paralelo com a econômica. Se pensarmos em determinada pessoa que passou privação material no seu passado veremos determinados mecanismos compensatórios em sua maneira de encarar as relações sociais; no caso de alguém que passou pela privação emocional seria muito interessante fazermos a mesma pergunta: que tipo de mecanismo psíquico é resultante desse processo? A primeira conclusão é que tal pessoa irá buscar o retraimento afetivo, e da mesma forma que alguém que sentiu a miséria econômica, "economizará" o máximo possível na troca e relacionamento emotivo.
Praticamente todas as escolas da psicologia colocaram a família como o palco do desenvolvimento dos futuros problemas e neuroses da pessoa, seguindo uma orientação psíquica e biológica, baseadas na fragilidade e dependência do ser humano. O hiato em tal concepção é que a neurose não é fruto dos conflitos familiares, sejam os mesmos: ciúmes, agressividade ou baixa auto estima , mas, da ausência ou sentimento de carência por não ter se aproveitado de determinado potencial afetivo.
A essência da carência nesta concepção não é a falta em si mesma, mas a revolta da não utilização do potencial, sendo que tal energia é totalmente desviada para a neurose.
Talvez devêssemos delinear o que buscamos num relacionamento, pois muitas vezes confundimos os elementos que se colocam a nossa frente. Desejamos amizade, companheirismo, atração sexual por parte do outro, fidelidade, citando alguns exemplos. Obviamente seria absurda a reunião de tais qualidades em uma só pessoa, embora todos gostem de delirar sobre a pessoa que escolhem. A prática psicológica têm nos dito que milhares de relações terminam abruptamente quando um dos parceiros manifesta que o centro de suas emoções perante o outro é a amizade. Não há maior ofensa para a pessoa do que ouvir que a mesma não é o objeto da mais pura satisfação ou desejo sexual, mas, tão somente uma espécie de "colega de turma". Não quero afirmar que a questão da sexualidade seja a primazia na mente de todos, mas cabe denunciar a hipocrisia na manifestação sentimental perante o parceiro. Quando alguém fala que deseja manter a amizade, está paralelamente negando a morte de seu desejo sexual em relação ao parceiro, não admitindo a perda da libido, talvez por um sentimento de culpa, que é a prova derradeira da morte da relação pela falta de coragem em assumir tal condição.
O que ocorre neste caso, é como no aspecto econômico, quando as pessoas por mais que não precisem de determinado elemento material, não admitem a perda do mesmo. O leitor poderá insistir que estou assinalando que a raiz da duração de uma relação é a certeza de ser desejado sexualmente continuamente pelo outro. Em parte isso é a verdade, mas tão fundamental quanto tal conceito é a honestidade da manifestação do que está acontecendo.
Como é possível duas pessoas que se conhecem há tempos desenvolveram o medo de expor a realidade? Medo de magoar o outro? Todos sabem que o mais nojento sentimento humano depois da destrutividade é a pena, pois a mesma despotencializa por completo o outro, catalizando o complexo de inferioridade pessoal.
Talvez não exista desafio maior para qualquer ser humano do que lidar com suas experiências pretéritas e o impacto destas sobre sua saúde física e psicológica. O primeiro ponto para a reflexão é: Gostaríamos de esquecer ou reviver as antigas experiências? A resposta para tal pergunta norteará a essência do caráter da pessoa; extroversão e motivação para o novo, caso a resposta seja a primeira, ou introversão e confinamento no imaginário, na segunda opção. Claro que isto não é uma regra fixa, pois não podemos declarar uma pessoa como sendo mais retraída ou desanimada apenas por estar presa no passado, sendo que o conceito é apenas para termos um parâmetro do funcionamento mental do indivíduo. Devemos refletir quais mecanismos conscientes ou inconscientes as pessoas se utilizam para reviver determinadas etapas inacabadas. As estratégias utilizadas definirão o tipo de motivação pessoal frente à esfera social.
SIGMUND FREUD chamou de "compulsão a repetição", o processo de reviver interminavelmente determinada neurose, assim sendo, quando alguém como exemplo repetia um relacionamento ou acontecimento frustrado, seria uma tentativa da libido descarregar a energia acumulada ou represada até conseguir o êxito de sua missão. FREUD associou tal complexo ao instinto de morte inato no ser humano, pois o prazer absoluto ou ausência da dor, apenas seriam obtidos no retorno ao inanimado, que seria a morte. Embora tal conceito até o presente seja um tanto difícil de ser elaborado, não precisamos ir muito longe para vermos que determinadas pessoas possuem um núcleo doentio de sempre estarem repetindo suas experiências mais dolorosas. Porém, o que FREUD deixou de mencionar é que a repetição na sua essência é um desafio imposto pelo ego frente ao orgulho ferido. A pessoa mesmo sabendo do risco da continuidade de determinada desgraça, aceita novamente uma situação similar, como o jogador compulsivo. É o famoso complexo de inferioridade descrito pelo psicólogo contemporâneo de FREUD: ALFRED ADLER.
O sofrimento passa a ser um preço de baixíssimo custo para uma alma que necessita de reparação, seja por ter sido excluída do afeto, ou totalmente imbuída do desejo de vingança. Estes são indiscutivelmente dois dos núcleos da alma humana, embora todos gostem de esconder tais sentimentos com a capa da religiosidade.
Chegamos à conclusão de que uma das coisas mais importantes para qualquer pessoa é o clamor arraigado por uma escuta de alguém que lhe diga seu valor e a oriente emocionalmente, do contrário, a depressão tomará sua alma. A essência de qualquer neurose não é a repressão sexual, mas principalmente a ausência do "tutor emocional"; alguém com certa experiência de ser amado e que nos mostre o caminho para conseguirmos semelhante experiência. Fica claro que a partir do percebimento de repetições constantes de frustração, é chegado o momento da procura da ajuda. O cerne da psicoterapia é justamente desfazer esse vínculo eterno com o vício de sofrer; não que seja possível apenas vivenciar o prazer, mas o importante é a estrutura emocional para lidarmos e aprendermos com as coisas que não deram e não podem dar certo, aceitando em todas as esferas nossos limites, como toda a psicologia gosta de enfatizar.
É importante perceber que a personalidade estratificada na culpa e dor acha mais fácil o puro sofrimento, do que a utilização de sua experiência como conteúdo e suporte para milhares de histórias de tragédia e desamparo ao seu redor. O complexo de inferioridade extremo é restringir o sofrimento para uma esfera totalmente privada, retirando do indivíduo o conhecimento profundo sobre as emoções negativas; dádiva incomensurável em nosso tempo.
Como ADLER sempre assinalou, a vivência da dor é uma tentativa torpe da busca da superioridade social, sendo que a pessoa não apenas diviniza seu sofrimento, mas, o coloca numa esfera única e inatingível no tocante à sua dissolução. Em termos do passado, esta personalidade irá se perguntar se deve aceitar o conformismo que reforça sua dor, ou algo de extrema dificuldade para seu ego: mobilizar pela primeira vez seus mecanismos conhecidos para uma "revolução" interna, aceitando toda a ansiedade decorrente. Se tivéssemos o hábito da reflexão e busca do autoconhecimento iríamos relembrar como passamos por cada etapa de nossa vida, e qual marca pessoal depositamos frente às novas experiências; (Primeiro dia na escola; conversar com alguém fora do âmbito familiar; puberdade e masturbação; primeiro namoro; sexualidade e primeiro emprego). A tônica destas experiências foi: ansiedade; choro e depressão; medo; alegria ou gozo pessoal?
Entender o centro de nossa personalidade é tarefa vital na busca do conhecimento interno e satisfação. A raiz do complexo de inferioridade descoberto por ALFRED ADLER é a constante instabilidade emocional, decorrente das precárias experiências de socialização do sujeito. O prazer para ADLER, não era apenas uma experiência de satisfação pessoal, mas, sobretudo, a possibilidade do sujeito usar seu potencial para modificar a história de sua comunidade. Caso a pessoa falhe nessa jornada, o prazer será eterno companheiro da angústia e tédio, reduzindo a intensidade das experiências gratificantes. ADLER inclusive cunhou uma fórmula para o entendimento da natureza do complexo de inferioridade: Experiências precoces infantis de rejeição= desenvolvimento do complexo de inferioridade= tentativa de compensação através do excesso de doenças infantis de fundo emocional ou comportamento de birra= caráter individualista; ou criança mimada no sentido de ter poder forçando a atenção de todos para seu problema; ou simplesmente não participando da vida familiar (timidez)= recusa constante de dividir suas vivências; principalmente no tocante às emoções; não contribuindo com o progresso emocional entre os membros de seu grupo. ADLER via o modelo mental como uma miniatura individual das relações econômicas e sociais, e não precisamos de nenhum esforço intelectual para descobrir como todo o exposto é tão óbvio em nossos tempos.
Podemos concluir dizendo que o medo maior de todo ser humano é a fusão de sua história pessoal e emocional (incluindo todos os traumas ou vivências subjetivas de desamparo individual), aliado à expectativa do julgamento do meio (opinião alheia), fator determinante no direcionamento do estilo de vida que a pessoa irá adotar, sendo uma das medidas mais exatas de seu amor próprio.
BIBLIOGRAFIA SOBRE O COMPLEXO DE INFERIORIDADE:
ADLER, ALFRED. O CARÁTER
NEURÓTICO.MADRID: EDITORA PAIDÓS, 1932.
DEMAIS IDÉIAS FORAM TIRADAS DA EXPERIÊNCIA CLÍNICA DO AUTOR.
COLABORADORES: IRINEU FRANCISCO
BARRETO JÚNIOR(SOCIÓLOGO)
SIMONE JORGE (SOCIÓLOGA)
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Antonio Carlos Alves de Araujo - Psicólogo -
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